quinta-feira, dezembro 29, 2005

O Alcançar das Almas

Cada um de nós foi incontestavelmente dotado de algo interior e inquestionavelmente particular e que se sobrepõe, a meu ver, a qualquer fisionomia, por mais equilibrada que esta seja: a Alma. Esta vagueia pelas ruas do nosso corpo, estabelecendo lá o seu lugar predilecto. É ela que nos personifica e que nos permite ser autênticos.
Em momentos de solidão, aqueles em que supostamente reflectimos sobre nós e os outros, dá-se uma tentativa de restabelecimento. É o mergulhar no mais íntimo que há em nós. Não há estado de plenitude maior que uma viagem ao nosso interior.
Por outro lado, sempre que somos sujeitos a um conceito colectivo, somos obrigados a abdicar dos nossos próprios instintos e agir em conformidade com a ética pré-estabelecida. É esse o causador da concretização ou não do alcançar das almas. O facto de se conseguir tocar no íntimo profundo do outro é por mim considerado um dom do qual nem todos somos possuidores.
Quando se estabelece o alcançar das almas, atinge-se um estado místico, mágico. A alquimia emocional conjuga-se com a sinfonia melódica daquilo que se profere. Alegra-me o espírito sempre que este fenómeno acontece.
Na meticulosidade contextual deste texto, ainda podemos inferir uma noção metamórfica no contacto espiritual entre dois seres. Afinal de contas, está-se a exercer um renascimento de nós próprios, considerando-se finito o tempo em que estamos sós. Dá-se conta de que ainda existe muito por aprender e apreender, talvez. Mas este momento, celebriza-se pela permuta que se estabeleceu. É estritamente impossível alcançar a alma do próximo sem que para isso a nossa não tenha já sido alcançada. Mas neste caso específico, refiro-me particularmente de uma simples troca entre almas reciprocamente alcançadas.
É tão bom melhorarmo-nos com as melhorias dos outros! A intensidade com que se vive uma experiência destas é algo inexplicável e inenarrável. Lamento apenas o facto de por vezes não nos darmos conta de que tentam alcançar a nossa alma. Lamento não conseguirmos atingir o espírito dos outros. Isto está sempre a acontecer. Porém, são momentos como os acima descritos que me fazem esquecer que os últimos existem. São experiências como as acima vividas que me fazem sorrir e escrever um texto como este.
Obrigado pelas vossas almas!

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