domingo, junho 22, 2014

Desacerto

 

Às vezes há momentos

Em que me perco no pensamento.

Vivo de desacertos,

Esperas, caminhos incertos,

Refém, á velocidade do tempo.

 

São angústias vividas

Que me inundam o coração .

Não tivera eu memoria,

Pra esquecer a minha história,

E recomeçar acorrentado à razão .

 

É querer tudo arbitrar

Com o instinto e a mente.

Vagueio em demasia,

Por toda a fantasia,

A viver dolorosamente.

 

É esta profundidade

Que em tudo me desgasta.

Queria ver tudo com leveza,

E viver com a certeza,

Que esta dor não mais se arrasta.

 

Tenho a alma corroída

A sentir-se atraiçoada.

São expectativas perdidas,

De desilusões vividas,

Porque a identidade me foi roubada.

 

É revolta que aqui paira

Por todo o esforço gorado.

Porque todo este caminho,

A percorrer por mim sozinho,

Não me deixa sentir amado.

 

 
 
 

quarta-feira, junho 11, 2014

Correntes...


Hoje sinto-me vazio. Coberto por esta opacidade que tende a revelar falaciosamente um estado de mero equilíbrio. Mas não. É puramente verosímil crer que o que se exterioriza é coincidente com o que se sente algures entre o peito e a mente. Produzo simulacros contínuos que acabam por divagar em pleno meio relacional com os outros e que chegam a enganar-me a mim próprio, ou não existissem os simulacros para baralhar as semelhanças entre o que realmente existe e aquilo que se gostaria que fosse verdade. É um simples desequilíbrio que faz toda a diferença e torna tudo muito mais sombrio. Mas é também inevitável acabar por tentar transmitir aquilo que parece apenas ser verdade.

Existem fases assim. Sente-se aquele vazio cheio de tudo, difícil de definir e que traz à tona vários emersos sentimentos desalinhados.

Talvez este estado oco esteja coberto de memórias que já se deviam ter desvanecido mas que teimam em permanecer. Provavelmente esta enganadora sensação de alienação não seja mais que uma efetiva materialização da realidade expressa em factos que apenas habitam num espectro intangível. Mas que isso corrói não se pode negar.

Tenho vontade de afogar tudo e deixar bem nas profundezas esta agitação impaciente que se impõe. É querer recomeçar com a crença de que tudo aquilo que é impalpável pode coabitar dentro de mim, com a ignorância na dose certa e a ancora a postos para os momentos em que vem à superfície.

Mentalmente exaltam-se analepses constantes, labaredas acesas que as lágrimas ainda não sufocaram. É fugaz o instinto de querer controlar as memórias e ficam perdidos no tempo os sonhos ilusórios de que o caminho seria totalmente antagónico.

Torna-se um peso ansioso, sem que se desvaneça a querença de por momentos regredir e erguer outro muro, outrora imaginado. E pedra sobre pedra poder empolgar exaltações arbitrárias cujo ímpeto partisse apenas de mim.

Preconizaram-me idiossincrasias obrigatórias que sempre respeitei como leis irrepreensivelmente a serem cumpridas. E hoje, vivo refém deste vazio que me obriga a ir em busca daquilo que realmente já deveria ter em mim como dado adquirido: uma identidade efetivada e alicerçada nos meus princípios-base e não rotulados nos de outrem, a não ser nos que me pertencem.

E é aqui, imóvel à passagem do tempo, que percebo que só reprimindo caminho interiormente em direção a uma réplica de tudo aquilo que transpareço. E é aqui, temporariamente com esperança, que recomeça um novo caminho na tentativa de ser o maior escudeiro de mim mesmo. E é aqui que me encontro e permaneço até conseguir suportar e ultrapassar as claustrofóbicas barreiras que se ergueram à minha volta e que, para já, esmagam a possibilidade clarividente de ser completamente feliz e sem amarras.

terça-feira, abril 08, 2014

(In)Confidências



Sábio mar de revolta espuma
Mistura agreste que vocifera
Sal dos olhos envolto em bruma
Da Dor calada que desespera

Pedaços de ser enviesado
De actos incertos acometidos
Que jamais seja fecundado
O ódio puro nos meus sentidos

Fístula ardente, auto-reprovação
Temor amargo minha alma guia
Poder da escura imensidão
Descoberta-mágoa que arderá um dia

Sou feito de pedaços inscritos
Na mais pura comoção
Quantas sombras, temores ou mitos
Terei eu guardados no coração?

Oh Cegueira da Utopia, olhar-fogo (des)cerebral
Padrão deliberado que revolta
Escondidas há marés de sal
Deixai que o Mundo caminhe à solta...