quarta-feira, junho 11, 2014

Correntes...


Hoje sinto-me vazio. Coberto por esta opacidade que tende a revelar falaciosamente um estado de mero equilíbrio. Mas não. É puramente verosímil crer que o que se exterioriza é coincidente com o que se sente algures entre o peito e a mente. Produzo simulacros contínuos que acabam por divagar em pleno meio relacional com os outros e que chegam a enganar-me a mim próprio, ou não existissem os simulacros para baralhar as semelhanças entre o que realmente existe e aquilo que se gostaria que fosse verdade. É um simples desequilíbrio que faz toda a diferença e torna tudo muito mais sombrio. Mas é também inevitável acabar por tentar transmitir aquilo que parece apenas ser verdade.

Existem fases assim. Sente-se aquele vazio cheio de tudo, difícil de definir e que traz à tona vários emersos sentimentos desalinhados.

Talvez este estado oco esteja coberto de memórias que já se deviam ter desvanecido mas que teimam em permanecer. Provavelmente esta enganadora sensação de alienação não seja mais que uma efetiva materialização da realidade expressa em factos que apenas habitam num espectro intangível. Mas que isso corrói não se pode negar.

Tenho vontade de afogar tudo e deixar bem nas profundezas esta agitação impaciente que se impõe. É querer recomeçar com a crença de que tudo aquilo que é impalpável pode coabitar dentro de mim, com a ignorância na dose certa e a ancora a postos para os momentos em que vem à superfície.

Mentalmente exaltam-se analepses constantes, labaredas acesas que as lágrimas ainda não sufocaram. É fugaz o instinto de querer controlar as memórias e ficam perdidos no tempo os sonhos ilusórios de que o caminho seria totalmente antagónico.

Torna-se um peso ansioso, sem que se desvaneça a querença de por momentos regredir e erguer outro muro, outrora imaginado. E pedra sobre pedra poder empolgar exaltações arbitrárias cujo ímpeto partisse apenas de mim.

Preconizaram-me idiossincrasias obrigatórias que sempre respeitei como leis irrepreensivelmente a serem cumpridas. E hoje, vivo refém deste vazio que me obriga a ir em busca daquilo que realmente já deveria ter em mim como dado adquirido: uma identidade efetivada e alicerçada nos meus princípios-base e não rotulados nos de outrem, a não ser nos que me pertencem.

E é aqui, imóvel à passagem do tempo, que percebo que só reprimindo caminho interiormente em direção a uma réplica de tudo aquilo que transpareço. E é aqui, temporariamente com esperança, que recomeça um novo caminho na tentativa de ser o maior escudeiro de mim mesmo. E é aqui que me encontro e permaneço até conseguir suportar e ultrapassar as claustrofóbicas barreiras que se ergueram à minha volta e que, para já, esmagam a possibilidade clarividente de ser completamente feliz e sem amarras.

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