Hoje sinto-me vazio. Coberto por
esta opacidade que tende a revelar falaciosamente um estado de mero equilíbrio.
Mas não. É puramente verosímil crer que o que se exterioriza é coincidente com
o que se sente algures entre o peito e a mente. Produzo simulacros contínuos
que acabam por divagar em pleno meio relacional com os outros e que chegam a
enganar-me a mim próprio, ou não existissem os simulacros para baralhar as
semelhanças entre o que realmente existe e aquilo que se gostaria que fosse
verdade. É um simples desequilíbrio que faz toda a diferença e torna tudo muito
mais sombrio. Mas é também inevitável acabar por tentar transmitir aquilo que
parece apenas ser verdade.
Existem fases assim. Sente-se
aquele vazio cheio de tudo, difícil de definir e que traz à tona vários emersos
sentimentos desalinhados.
Talvez este estado oco esteja
coberto de memórias que já se deviam ter desvanecido mas que teimam em
permanecer. Provavelmente esta enganadora sensação de alienação não seja mais
que uma efetiva materialização da realidade expressa em factos que apenas
habitam num espectro intangível. Mas que isso corrói não se pode negar.
Tenho vontade de afogar tudo e
deixar bem nas profundezas esta agitação impaciente que se impõe. É querer
recomeçar com a crença de que tudo aquilo que é impalpável pode coabitar dentro
de mim, com a ignorância na dose certa e a ancora a postos para os momentos em
que vem à superfície.
Mentalmente exaltam-se analepses
constantes, labaredas acesas que as lágrimas ainda não sufocaram. É fugaz o
instinto de querer controlar as memórias e ficam perdidos no tempo os sonhos
ilusórios de que o caminho seria totalmente antagónico.
Torna-se um peso ansioso, sem que
se desvaneça a querença de por momentos regredir e erguer outro muro, outrora
imaginado. E pedra sobre pedra poder empolgar exaltações arbitrárias cujo
ímpeto partisse apenas de mim.
Preconizaram-me idiossincrasias
obrigatórias que sempre respeitei como leis irrepreensivelmente a serem
cumpridas. E hoje, vivo refém deste vazio que me obriga a ir em busca daquilo
que realmente já deveria ter em mim como dado adquirido: uma identidade
efetivada e alicerçada nos meus princípios-base e não rotulados nos de outrem,
a não ser nos que me pertencem.
E é aqui, imóvel à passagem do tempo,
que percebo que só reprimindo caminho interiormente em direção a uma réplica de
tudo aquilo que transpareço. E é aqui, temporariamente com esperança, que
recomeça um novo caminho na tentativa de ser o maior escudeiro de mim mesmo. E
é aqui que me encontro e permaneço até conseguir suportar e ultrapassar as claustrofóbicas
barreiras que se ergueram à minha volta e que, para já, esmagam a possibilidade
clarividente de ser completamente feliz e sem amarras.
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